À representação do corpo sobrepõe-se, completando-a, a representação da pessoa, ou seja ao self corporal sobrepõe-se o self mental, isto é a representação global do sujeito,imagem do próprio, do todo pessoal somato-psiquico e social, composição do esquema corporal alargado quer à identidade própria quer à do papel social. Nos doentes seropositivos as alterações morfológicas que incluem lipodistrofia periperal e acumulação de gordura, bem como a percepção que cada doente faz da sua condição de desfiguração e consequente estigmatização social,que é tida como uma erosão da imagem corporal, torna publico o seu estatuto serológico de VIH positivo.
Deste modo nos doentes seropositivos com deformação e defeito egóico o processo psicoterapêutico tem de realizar todo um trabalho de desidentificação da identidade patológica e ocupar um tempo de maturação e desenvolvimento de processos de crescimento normal que ficaram inibidos.A psicoterapia é na época actual uma teoria da personalidade com o seu método próprio de estudo e tratamento. No self do paciente fica um vazio, um buraco que precisa de amor,só encontrado na relação com o psicoterapêuta, para um preenchimento estrutural, estruturado e estruturantre, mas o sujeito ignora e consequentemente não procura satisfazê-la.
Como resultado da insatisfação existente mas ignorada, gera-se uma revolta imensa, sem finalidade,uma raiva em regra apenas sentida como tensão, desconforto ou irritabilidade e quase sempre não reconhecida, raiva difusa e invasiva que carece de um acompanhamento psicoterapêutico interpretativo e descodificante conduzindo o paciente a toda uma tomada de consciência dos motivos da sua própria raiva,de forma gradual e sistemática levando-o a uma meta-cognição de todo um processo de auto-aceitação de si próprio, do temor do julgamento social e da necessidade urgente de amor, aceitação e integração social.
Ora a personalidade constroi-se a partir de dois tipos de elementos, internos e externos,os internos vêm dos instintos, dos desejos próprios e das realizações individuais enquanto que os externos vêm da identificação com os modelos.
É todo este trabalho que tem de ser levado a bom termo numa psicoterapia focada no pânico da distorção da auto-imagem, contrapondo-se-lhe a conciliação com essa própria auto-imagem, para o que é imprescíndivel que se criem condições nas quais ou através das quais as pessoas tenham acesso paralelamente a um acompanhamento psicoterapêutico e a uma cirurgia plástica reconstrutiva